Industria 4.0 – conheça aqui! A próxima revolução da fabricação já chegou.

Falar de problemas da indústria, apesar de ser tão comum atualmente, somente é bom, em uma rara circunstância, quando temos a oportunidade de oferecer uma solução que seja, verdadeiramente, importante e transformadora. Sendo assim, então, acredito que temos os motivos suficientes e vamos falar, neste texto, de um assunto muito grave… a nossa dificuldade de adaptação à mais nova exigência da globalização – a Industria 4.0.

Industria 4.0, a Quarta Revolução Industrial chega em muito boa hora e vai quebrar vários dos paradigmas da globalização, trazendo gigantescas oportunidades para economias mais maduras.

A que problema me refiro? Falo da situação do crescimento da economia global porque, não é novidade, esse crescimento está desaparecendo e isso vai se transformando em uma grande tragédia para todos nós. Alguém me questionaria se eu dissesse que a economia global, praticamente, parou de crescer? Na verdade, isso poderia ser previsto, com certa facilidade, afinal, o ritmo do crescimento veio diminuindo nos últimos 50 anos. Se continuarmos seguindo o que indicam as tendências, precisaremos aprender a viver em um mundo sem crescimento já na próxima década. Isso é assustador porque quando a economia não cresce, nossos filhos não conseguem uma vida melhor.

O que é ainda mais assustador é que quando a torta não cresce, cada um de nós recebe um pedaço menor e, então, estamos prontos para lutar por um maior. Isso cria tensões e conflitos sérios. Alguém duvida que as tensões e ameaças que existem no mundo decorrem da necessidade, que alguns povos já sentem, de buscar uma fatia maior da pizza dos recursos globais? No caso do Brasil esse assunto é dramático, dado que estudo recente, da Fundação Getúlio Vargas, indica que o nosso país está entre os últimos do ranking de produtividade industrial, conforme se lê em http://bit.ly/BrasilnaLanterna.

O Brasil nem aparece nesse gráfico dos países mais produtivos do mundo, por hora trabalhada. Isso precisa melhorar!

O crescimento é, portanto, isso está suficientemente claro, muito importante, você concorda? Se olharmos para a história do crescimento, tempos de grande crescimento sempre foram alimentados por grandes revoluções de fabricação. Aconteceu, pelo menos, três vezes, a cada 50-60 anos. O motor a vapor em meados do século 19, o modelo de produção em massa no início do século 20 – pelo qual devemos agradecer ao Sr. Henry Ford, e a primeira onda de automação na década de 1970. Por que essas revoluções de fabricação criaram ciclos de enorme crescimento em nossas economias? Porque eles injetaram uma enorme melhoria de produtividade. É bastante simples: para crescer, você precisa estar produzindo mais, colocando mais capacidade de geração de resultados em nossa economia.

Isso significa mais trabalho, mais capital ou mais produtividade. A cada vez que esses ciclos ocorreram, em nosso passado, estávamos diante de ciclos de aumento de produtividade, portanto, a produtividade tem sido a alavanca de crescimento. Pois bem, estamos no início de uma nova grande mudança e, surpreendentemente, porque muitos não imaginavam que isso pudesse acontecer desse modo, o novo ciclo, outra vez, virá da manufatura, aliás estou escrevendo esta postagem para lhe dizer que estamos à beira de outra grande mudança, e que esta mudança, surpreendentemente, virá da manufatura, mais uma vez. Com essa mudança, ou melhor, com essa revolução em que estamos entrando, superaremos a falta de crescimento da economia global, ao mesmo tempo que mudará, radicalmente, a forma da globalização, moldada na última década.

Nesta postagem vou falar sobre a incrível Quarta Revolução de Fabricação – a Indústria 4.0, que está em andamento. Não se trata do entendimento de que não tivéssemos feito nada com a fabricação desde a última revolução. Na verdade, fizemos algumas tentativas muito ruins para tentar revitalizar a indústria. Mas nenhuma delas foi a grande reforma que realmente precisamos para nos fazer crescer novamente. Por exemplo, tentamos realocar nossas fábricas no exterior para reduzir custos e aproveitar mão-de-obra barata.

Nesse movimento o mundo todo, de uma maneira, no mínimo, de pouca inspiração, resolveu que tudo se resolveria se pudéssemos produzir os nossos produtos na China. Também entenderam que conquistar o mercado chinês seria o melhor dos mundos. Eu ficava sem entender como isso poderia funcionar, se conseguíssemos o nosso intento de fabricar tudo na China e vender o que fosse possível, também, no mercado chinês, um mercado que dominava, e ainda domina, os sonhos de todo o empreendedor ocidental.

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O resultado desse movimento, que julgo meio insano, foi o que se poderia esperar, se usássemos um pingo de bom senso, ou seja, isso não estimulou a produtividade, mas apenas economizou dinheiro, por um curto período de tempo, porque a mão-de-obra barata não ficou barata por muito tempo, em decorrência de uma lei básica de economia, a Lei da Oferta e da Demanda. Aumentou drasticamente a demanda por fabricação na China, portanto, o resultado óbvio aconteceu, ou seja, a fabricação na China ficou mais cara.

Então, tentamos aumentar nossas fábricas e as especializamos por produto. A ideia era que pudéssemos fabricar muitos produtos e estocá-los para serem vendidos de acordo as exigências da demanda. Isso ajudou a produtividade por um tempo. Mas introduziu muitos pontos de inflexibilidade em nossa cadeia de suprimentos. Vamos fazer a análise do varejo de moda. Empresas de roupas tradicionais construíram cadeias de fornecimento rígidas, offshore e globais.

Situação do Brasil, em termos de competitividade já era dramática em 2016, tendo caído 33 posições em 4 anos.

Quando os concorrentes da fast fashion, como a Zara, começaram a reabastecer suas sessões mais rapidamente, de duas coleções por ano para uma coleção por mês, nenhuma das fábricas, concebidas por e para esse modelo global, conseguiu acompanhar o ritmo. Em consequência, a maioria deles está em grandes dificuldades hoje. No entanto, com todas as suas deficiências, essas são as fábricas que estão aí e que conhecemos hoje. Quando você abre as portas, elas parecem as mesmas de 50 anos atrás.

Acabamos de mudar a localização, o tamanho, a maneira como elas operam. Você pode citar qualquer outra coisa que pareça o mesmo de 50 anos atrás? É muito louco tudo isso! Fizemos todos os ajustes, no modelo, que podíamos e agora atingimos seus limites. Depois que todas as nossas tentativas de consertar o modelo de fabricação falharam, pensamos que o crescimento poderia vir de outro lugar. Nós nos voltamos para o setor de tecnologia – houve muitas inovações por lá. Apenas para citar um: a Internet. Esperávamos que pudesse produzir crescimento. E, de fato, isso mudou nossas vidas. Ele fez grandes ondas na mídia, no serviço, nos espaços de entretenimento. Mas… não fez muito pela produtividade.

Na verdade, o que é surpreendente é que a produtividade está em declínio apesar de todos esses esforços de inovação. Imagine que – sentado no trabalho, navegando pelo Facebook, assistindo a vídeos no YouTube nos tornamos menos produtivos. Esquisito! Estranho, não? É, por isso, que não estamos crescendo. Nós falhamos em reinventar o espaço de manufatura, e grandes inovações tecnológicas se desdobraram em esforços, sem gerar resultados.

Mas e se pudéssemos combinar essas forças? E se a fabricação existente e as grandes inovações tecnológicas se unissem para criar a próxima grande reinvenção de fabricação? Bingo! Esta é a Quarta Revolução de Fabricação e está acontecendo agora. As principais tecnologias estão entrando no espaço de produção, um grande momento e um grande movimento. Eles aumentarão a produtividade industrial em mais de um terço. Isso é muita coisa e vai fazer com que se modifiquem, drasticamente, as curvas de tendência do crescimento global.

Tudo isso possibilitará que empresas tenham cadeias de produção totalmente conectadas com o mundo digital, com controle de dados desde a entrada dos insumos até a entrega ao consumidor final, dando grande velocidade à produção seriada ou flexibilidade a produção com alta variabilidade de produtos. Máquinas se comunicarão umas com as outras, com os sistemas de logística das fábrica e terão melhores interfaces com seus operadores. No futuro, tudo será gerenciado de forma integrada, por meio de sistemas ciber-físicos que terão a função de estabelecer essas intercomunicações. Conheça, a seguir, as principais vantagens da quarta revolução industrial:

  1. Operações em tempo real –  Na Indústria 4.0, será possível a construção de um grande banco de dados provenientes dos processos produtivos do chão de fábrica, bem como o tratamento instantâneo dessas informações – essenciais para a tomada de decisões assertivas e em tempo real;
  1. Migração para o mundo virtual – Empresas poderão dispor de cópia virtual de suas “fábricas inteligentes”. Com isso, tarefas de rastreabilidade e monitoramento poderão ser executadas remotamente graças a sensores fixados ao longo das instalações fabris;
  1. Descentralização – Sistemas cyber-físicos poderão tomar decisões, baseadas em necessidades identificadas em tempo real nas linhas de manufatura; Predição de falhas nas máquinas irão acelerar o diagnóstico,  reduzir tempo de equipamento parado por defeito. A coleta de contagem de produção, itens descartados e dentro dos parâmetros de qualidade serão realizados mais rapidamente.
  1. Sistemas orientados a serviços – A Internet e os softwares estarão cada vez mais voltados para serviços; Assistência remota, manutenções mais assertivas, acompanhamento de produção serão possíveis graças a plataforma única de comunicação.
  1. Manufatura modular – Atividades das máquinas poderão ser alteradas com facilidade. Dessa forma, os processos produtivos se tornarão ainda mais flexíveis, permitindo estruturação de módulos para atender demandas específicas; Lançamento de novos produtos, alterações de fórmulas existentes serão mais rápidas de configurar nos sistemas.
  1. Operações integradas – Com a adoção de sistemas cyber-físicos, as fábricas contarão com infraestrutura inteligente capaz de estabelecer contato com a cadeia de fornecedores e clientes, ponta a ponta. As demandas serão melhor sincronizadas.

São muitas novidades entrando no espaço da manufatura, ao mesmo tempo! Deixe-me contar sobre mais algumas delas. Você já conheceu robôs de fabricação avançada? Eles são do tamanho dos humanos, eles realmente colaboram com estes e podem ser programados para executar tarefas complexas e não repetitivas. Hoje em nossas fábricas, apenas 8% das tarefas são automatizadas. As menos complexas e mais repetitivas. Os robôs avançados complementarão a capacitação dos trabalhadores para, juntos com eles, serem 20% mais produtivos, fabricarem 20% mais produtos e, assim, alcançarem um crescimento adicional de 20%.

Mas atenção, esta não é uma ideia futurista ou chique. Esses robôs estão trabalhando, em muitas de nossas fábricas, juntamente conosco, exatamente agora.

O protagonismo da chamada Manufatura Aditiva das Impressoras 3D está presente de forma destacada na Industria 4.0

No ano passado, nos EUA, eles ajudaram a Amazon a preparar e enviar todos os produtos necessários para a Cyber ​​Monday, o pico anual do varejo on-line. No ano passado, nos EUA, foi o maior dia de compras on-line do ano e da história. Os consumidores gastaram 3 bilhões de dólares em produtos eletrônicos naquele dia. Isso é crescimento econômico real. Depois, há manufatura aditiva, impressão 3D. A impressão 3D já melhorou a fabricação de plástico e agora está passando para o metal. Essas não são pequenas indústrias. Plásticos e metais representam 25% da produção industrial global.

Vejamos um exemplo real. Na indústria aeroespacial, os bicos de combustível são algumas das peças mais complexas a serem fabricadas, por uma razão: eles são compostos de 20 peças diferentes que precisam ser produzidas separadamente e depois montadas meticulosamente. As empresas aeroespaciais estão usando agora a impressão 3D, o que lhes permite transformar essas 20 partes diferentes em apenas uma. Os resultados? 40% mais produtividade, 40% mais produção, 40% mais crescimento para esse setor específico.

Mas, na verdade, a parte mais interessante dessa nova revolução de fabricação vai muito além da produtividade. É sobre produzir produtos melhores e mais inteligentes. É sobre personalização de escala. Imagine um mundo onde você pode comprar os produtos exatos com as funcionalidades que você precisa, com o design que você quer, com o mesmo custo e prazo de entrega de um produto que foi produzido em massa, como seu carro, sua roupa ou seu celular. A nova revolução de fabricação torna isso possível. Robôs avançados podem ser programados para executar qualquer configuração de produto sem qualquer aumento no tempo de configuração ou nos custos da produção.

Impressoras 3D instantaneamente produzem qualquer design personalizado. Agora somos capazes de produzir um lote de um produto, o seu produto, com o mesmo custo e prazo de entrega de muitos. Esses são apenas alguns exemplos da revolução na fabricação, em jogo. Não apenas a manufatura se tornará mais produtiva, ela também se tornará mais flexível, e esses foram exatamente os elementos de crescimento que acabávamos perdendo, dia a dia, com o modelo em que atuávamos e, em grande parte, ainda atuamos.

Na verdade, existem até algumas implicações maiores para todos nós, neste momento em que a manufatura encontra seu caminho de volta aos holofotes. Isso criará uma enorme mudança macroeconômica. Primeiro, nossas fábricas serão realocadas, de volta, em nossos mercados domésticos. No mundo da customização de escala, a proximidade do consumidor é a nova norma. Então, nossas fábricas serão menores, muito ágeis. Escala não importa mais, flexibilidade faz a diferença. Elas estarão operando em uma base multiproduto, feitos sob encomenda. A mudança é drástica.

A globalização entrará em uma nova era. Os fluxos comerciais do Oriente para o Ocidente serão substituídos por fluxos comerciais regionais. Leste para leste, oeste para oeste. Quando você pensa sobre isso, percebe que, de fato, o modelo antigo é muito insano, empilhando estoques, fazendo com que os produtos percorram o mundo todo, antes que cheguem ao consumidor final.

O novo modelo, produzindo logo ao lado do mercado consumidor, será muito mais limpo, muito melhor para o nosso meio ambiente. Nas economias maduras, a produção voltará para casa, gerando mais emprego, mais produtividade e mais crescimento nessas economias. Boas notícias, não é? Mas aqui temos uma questão muito relevante, no aspecto do crescimento – ele não vem automaticamente. As Economias Maduras terão uma grande oportunidade de aproveitar esse momento para crescerem muito, porém, isso exigirá ação inteligente e focada em objetivos estratégicos claros.

Nós teremos que, maciçamente, re-treinar nossa força de trabalho. Em muitos países, como na França e Inglaterra, foi dito para os mais jovens que a fabricação não tinha futuro. Então todos esses novos movimentos foram acontecendo à distância, sem o envolvimento desses jovens dos países mais desenvolvidos, sobretudo europeus, ainda que a Alemanha fique de fora desse grupo. Então, será necessário mudar esse paradigma, reverter isso e ensinar a manufatura, novamente, nas universidades. Somente os países que forem capazes de se transformar, com ousadia, serão capazes de aproveitar essa oportunidade de crescimento.

É mais uma chance para as economias em desenvolvimento. É claro que a China e outras economias emergentes não serão mais “a fábrica do mundo”.

De fato, o modelo era muito frágil, não podia ser um modelo sustentável a longo prazo, pois esses países que ficaram com a tarefa da fabricação para o mercado global, o principal deles a China, estão se tornando mais ricos e, portanto, mais caros. No ano passado, já era tão caro produzir no Brasil quanto produzir na França. Até 2018, os custos de fabricação na China serão equivalentes aos dos EUA. A nova revolução da manufatura acelerará a transição dessas economias emergentes para um modelo impulsionado pelo consumo doméstico. E isso é bom, porque a partir dessa mudança que o crescimento será criado.

Nos próximos cinco anos, o próximo bilhão de consumidores na China injetará mais crescimento em nossas economias do que os cinco principais mercados europeus juntos. Esta quarta revolução industrial é uma chance para todos nós, das economias mais desenvolvidas. Se fizermos certo, veremos o crescimento sustentável em todas as nossas economias. Isso significa mais riqueza distribuída para todos nós e um futuro melhor para nossos filhos. Mas fiquem muito atentos, como falei antes, nada acontecerá automaticamente, é preciso que façamos a nossa parte.

No caso do Brasil é muito claro que algumas mudanças profundas precisam acontecer para que o país não perca, mais uma vez, a oportunidade de se encontrar com o seu futuro de prosperidade, tantas vezes prometido, ensaiado e alardeado, porém, sistematicamente frustrado, sempre por um mesmo motivo, a falta de um planejamento de país, de uma identidade cultural e de uma cultura de desenvolvimento. Tudo, geralmente, decorre de um comando político que tenha um mínimo de capacidade de olhar para os interesses da sociedade, o que tem faltado ao Brasil e cuja falta tem comprometido a capacidade, do Brasil, de realizar o seu alardeado potencial.

 

Esse texto é uma adaptação do conteúdo de um vídeo de Olivier Scalabre,, publicado no Youtube.

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